Psicóloga explica a relação entre consumo e afeto, e especialista conta o que uma papelaria deve fazer para tornar a marca mais afetiva aos olhos do cliente
Estar perto de quem amamos tem se tornado uma tarefa bem difícil devido à pandemia do novo coronavírus. O isolamento social causado pela covid-19 nos mostra a falta do carinho e do afeto nos dias que estamos vivendo. Antes mesmo de a pandemia tomar a proporção que está tendo no Brasil, um conceito dentro do mercado papeleiro se destacou e tem crescido exponencialmente por conta da nova realidade: a chamada papelaria afetiva.
O termo tem o intuito de trazer emoções e sentimentos como alegria, felicidade, esperança, saudade, nostalgia, entre outros, por meio dos produtos oferecidos, aproximando marca e consumidor. Quantas vezes vemos um caderno e nos apaixonamos por ele? Ou uma mochila que é simplesmente ‘a nossa cara’ e compramos imediatamente? Em qualquer faixa etária, a papelaria afetiva pode e deve estar sempre presente. Por isso, é muito importante que os empresários apostem em ferramentas para investir nessa afetividade dentro do negócio, e com isso na possibilidade de aumentar suas vendas. Mas como se diferenciar num mercado tão concorrido?
Para Maricelma Bueno, que atua há mais de 30 anos no segmento papeleiro e, atualmente, à frente da loja on-line Mari4You, hoje a papelaria traz uma memória afetiva para todos. Mas o que é memória afetiva? “A memória afetiva é aquela que quando lembramos, pensamos, conseguimos trazer sentimento, emoção, nos remete a lugar, pessoas, a fatos da nossa vida que são agradáveis. Com a realidade de hoje, percebemos um resgate do papel, da caneta, da escrita, principalmente depois desse ano que tivemos. Resgatar essas coisas fofas tem sido uma coisa que tem dado prazer a todos. Nunca se viu tanta papelaria fofa e tanta gente amando papelaria”, explica.

“Com a realidade de hoje, percebemos um resgate do papel, da caneta, da escrita, principalmente depois desse ano que tivemos. Resgatar essas coisas fofas tem sido uma coisa que tem dado prazer a todos”
Maricelma Bueno, da Mari4You
A psicóloga brasiliense Andréa Chaves, especialista em saúde mental, esclarece que a necessidade do toque, de estar perto das pessoas, tocar nas coisas compradas ficou muito mais evidente com esse período de isolamento social. As pessoas estão dando mais valor a essa necessidade de estar perto, do toque físico. Por isso são muitos os sentimentos que podem ser despertados pela papelaria afetiva. “Tendo que destacar um, certamente destacaria esperança: esperança de traçar o dia, o mês ou ano e cumprir os passos estabelecidos, de se tornar uma pessoa mais organizada, de lembrar de pessoas queridas em datas comemorativas, entre outros. Envolve o tornar-se uma pessoa mais centrada no que realmente importa”, conta.
Andréa ainda complementa que “a papelaria emociona, pois tem uma alta capacidade de representação, seja através da escrita, de colagens, seja através de desenhos. No papel é possível tornar concretas as emoções e organizar o afeto”. Mas, se estamos falando de papelaria afetiva, o que é afeto e como ele se relaciona com o consumo na papelaria? Será que é possível ter afeto a pessoas, mas também a itens materiais como cadernos, canetas, lápis, mochilas etc.?
“Afeto, também em seu sentido etimológico, pode ser compreendido como ‘um estado psíquico ou moral (bom ou mau), afeição, disposição de alma, estado físico, sentimento, vontade’, de acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. O afeto envolve a parte emocional das representações simbólicas que damos a objetos, situações e pessoas. O afeto trata da experiência de vida que pode alimentar inclusive o imaginário dos consumidores”, acrescenta a psicóloga.

“A papelaria desperta esperança. Esperança de traçar o dia, o mês ou ano e cumprir os passos estabelecidos, de se tornar uma pessoa mais organizada, de lembrar de pessoas queridas em datas comemorativas”
Andréa Chaves
Como tornar sua papelaria mais afetiva
Trazer elementos afetivos para a papelaria é muito importante para estreitar os laços com o consumidor. “A própria papelaria fofa, arrumada, colorida, já conecta, mas outras medidas são fundamentais, como um atendimento humanizado, apresentar o que é diferente no mix de produtos, a presença nas redes sociais, como Instagram, por exemplo. Nele, se você vê fotos lindas e organizadas, dá vontade de seguir para os stories, para os conteúdos, e assim por diante, assim você não quer mais sair de lá. Podemos fazer 365 dias de oportunidades. Com todos esses artifícios você não vai ganhar só um cliente, mas sim um fã”, salienta Bueno.
Outro ponto importante é que tem se notado que as marcas realmente estão apostando numa papelaria mais fofa, resgatando o colorido, a escrita com carinho, nessas horas que é preciso se diferenciar, com presentes fora das datas comuns, e kits com carinho. “Temos duas situações visíveis no nosso segmento: o consumidor que precisa comprar determinado produto, com isso ele procura preço, e o outro que procura valor, aquilo pelo que ele se apaixona, que toca no sentimento, que pode até não ser tão essencial assim naquele momento”, garante Maricelma.
“Apostar em kits e coleções que agreguem valor ao consumidor é muito interessante. Temos que tornar nossos clientes fãs da nossa papelaria. Em loja física, por exemplo, a vitrine deve estar sempre atrativa e mudar com frequência, unir produtos com criatividade, trazendo uma proposta de ‘compre um caderno e uma caneta da mesma marca’, trazendo esse aconchego para o cliente. Há um mundo infinito de possibilidades”, sinaliza Bueno.