Lojistas oferecem atrativos para o público e relatam mudanças no hábito de consumo
Após um longo período de indefinições e controvérsias, causado pela pandemia de covid-19, o retorno das aulas presenciais nas principais cidades do país, enfim, se tornou uma realidade. Metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro liberaram a retomada dessas atividades em instituições privadas na última segunda-feira (1). Os colégios públicos, por sua vez, têm previsão de volta presencial dos estudantes nessas regiões nas próximas semanas, entre os dias 8 e 15 de fevereiro. Em estados como Brasília e Rio Grande do Sul, o regresso presencial dos alunos deve ocorrer apenas em março.
O movimento trouxe certo alívio para as papelarias, que têm observado um aumento de vendas, mesmo menor do que em anos anteriores. E para atrair a clientela e se diferenciar de concorrentes, diversas lojas do setor passaram a oferecer promoções, principalmente nas redes sociais, como entregas em domicílio de forma gratuita, descontos nos produtos e até sorteios.
Em Niterói, município da Região Metropolitana do Rio, os colégios sofreram um ‘vai e vem’ em relação ao retorno presencial. A mais recente decisão é de 18 de janeiro, quando o prefeito Axel Grael permitiu a reabertura de escolas de Ensino Médio, Fundamental e Infantil. Agora, a volta dessas atividades presenciais na cidade está prevista para março, adotando todos os protocolos de segurança contra o novo coronavírus.
Para atrair os consumidores

Com essa expectativa, a Papelaria Falcão, localizada em um shopping de Niterói, está promovendo entregas gratuitas por toda a região. A loja também oferece 8% de desconto em compras à vista para este volta às aulas. A ‘cereja do bolo’ fica por conta de um sorteio, divulgado pelo Instagram, para quem adquirir a lista de material completa na papelaria: o consumidor vai concorrer a prêmios de até R$ 800 em dinheiro.

Também na Região Sudeste, a Papelaria Rainha, em Vila Velha, Espírito Santo, realizou, no início do mês de janeiro, sua tradicional cortesia para encapar livros e cadernos aos seus clientes. Além disso, o horário de funcionamento da papelaria aos sábados foi ampliado, em virtude da retomada das aulas presenciais. As compras, que podem ser parceladas em até 10 vezes sem juros, têm entrega gratuita para Vila Velha e para a cidade vizinha, Vitória.
“Todas essas ações são sempre muito importantes para atrair clientes, não só por ofertar um diferencial, como também por facilitar a vida do consumidor. Para esse volta às aulas, disponibilizamos nossa loja online para permitir ao cliente comprar sem sair de casa, com cupons de desconto e possibilidade de frete grátis. Precisamos antever as necessidades do consumidor e nos reinventar sempre, com a construção de uma mentalidade digital”, afirmou Natieli Giorisatto, 29 anos, gerente de marketing da papelaria.
Retorno diferente para rede particular e pública
No município, as instituições de ensino particular retornaram, de modo presencial, no último dia 1. Já em escolas estaduais, essa volta começará apenas em março, sofrendo ainda uma variação para cada município do Espírito Santo. Para o Ensino Infantil, a data para o regresso dos estudantes de colégios públicos ainda não foi definida e deve acontecer apenas em abril.
“Mesmo buscando alternativas criativas para enfrentar os desafios, foi difícil não perceber o impacto da pandemia neste volta às aulas. Tivemos uma redução de 50%. Para atender às novas necessidades dos clientes, incluímos em nosso mix de produtos álcool em gel e máscaras. Enquanto houve uma redução no consumo de materiais escolares mais básicos, percebemos um aumento da procura por itens de escritório e informática, artesanato, papelaria fina e lettering”, explicou a gerente de marketing da Papelaria Rainha.

Na Futtura Papelaria, situada em Santa Catarina, a esperança é que as vendas no mês de fevereiro sejam melhores. Por enquanto, a loja só tem recebido listas das escolas particulares e os artigos mais vendidos são as agendas, que inclusive esgotaram, cadernos e planners. Mochilas e lancheiras, contudo, têm sofrido com baixa procura.
No município de Limeira, interior de São Paulo, algumas escolas privadas já retomaram as atividades presenciais, em sistema híbrido, enquanto as instituições públicas devem voltar no próximo dia 8. O ano letivo será divido por trimestres, com aulas presenciais e remotas.
Concorrência agressiva
Para esse retorno, a Papelaria Mec, em Limeira, passou a disponibilizar descontos de até 20% nos produtos, opções de entrega e retirada das compras e ainda montou kits de papelaria, postados no Instagram da loja. “Os concorrentes estavam bem agressivos em relação aos descontos, então precisamos também oferecer. De uns anos para cá, o consumidor tem sido cada vez mais atraído por isso”, destacou Paulo Sbragi Junior, de 43 anos, proprietário da loja.
O empresário contou que o movimento na papelaria, que tem 39 anos de tradição, ainda está “tímido”: “Por conta da pandemia, as pessoas continuam evitando frequentar os lugares. Estamos trabalhando com muitas entregas. E os clientes estão aproveitando ao máximo os materiais escolares do ano passado. Comparando com o volta às aulas 2020, a queda nas vendas foi substancial. Estamos conseguindo equilibrar porque não fizemos grandes estoques”, disse Sbragi Junior.
Em relação ao mix oferecido, o proprietário da Papelaria Mec se atentou ao custo benefício dos produtos para oferecer ao seu público. “Procuramos não comercializar itens muito caros, pois nesse momento não vai ter venda. A procura por cadernos, lápis, canetas e borrachas tem sido boa”, completou ele.
Na loja de papelaria, decoração e presentes Fricote, que possui quatro filiais próprias no Espírito Santo e distribuí produtos para 26 estados, também houve mudanças de demanda. Enquanto cadernos e mochilas estão com poucas vendas, porta-máscaras virou um item essencial para a clientela. Agendas e planners, por sua vez, parecem já ter entrado na rotina do público e têm saído com frequência. Itens para organização e decoração de escritório, incluindo porta-lápis, cachepot e quadros, tiveram aumento de consumo por lá.
Ações do Procon em papelarias de todo país
No mês passado, o Procon, órgão de Proteção e Defesa do Consumidor, realizou fiscalizações e pesquisas de preço em papelarias de diferentes estados, em virtude da volta às aulas. Em Aracaju, capital de Sergipe, 27 estabelecimentos foram vistoriados até 15 de janeiro. Sete deles foram autuados por comercializarem produtos fora da validade.
“Verificamos se os estabelecimentos possuem um exemplar do Código de Defesa do Consumidor visível e de fácil acesso, além de observar se os itens são próprios para consumo, no que pertine a data de validade. Sabemos que alguns itens de papelaria não possuem data determinada, e isso tem que constar, mas outros possuem e isso também precisa estar acessível”, lembrou o coordenador do Procon Aracaju, Igor Lopes.
Certificação
Lopes enfatizou a necessidade de que os itens expostos nas papelarias estejam precificados. “Quando a gente fala de material escolar é preciso que haja a indicação da faixa etária para a utilização do produto e a certificação do Inmetro, além da obrigação do estabelecimento em informar, previamente, sobre a diferenciação de preço a partir da forma de pagamento”, explicou o coordenador do órgão municipal.
No Estado de Mato Grosso, o Procon Estadual executou uma operação especial para o retorno das escolas, em parceria com o Instituto de Pesos e Medidas (Ipem-MT). No total, foram fiscalizados 12.564 itens em quatro estabelecimentos. Destes, 12.416 foram aprovados e 148 reprovados, resultando em um índice de reprovação de 1,18%. “Damos aos lojistas um prazo razoável para se adequarem às leis”, disse o fiscal de Defesa do Consumidor, Erick Gomes.
No município de Itajaí, localizado em Santa Catarina, o Procon preparou uma pesquisa de preços que apontou variação de 194,69% entre a soma dos produtos mais baratos e mais caros nas oito papelarias visitadas. Em relação ao ano anterior, o kit com os 23 artigos escolares subiu 0,84% nos mais baratos e 2,04% nos mais caros.
Em Vitória, um levantamento do Procon mostrou que a diferença de preço de material de escolar ultrapassou 220% na capital do Espírito Santo. A diferença nas etiquetas, por exemplo, superou a casa de 220%. Na seção de lápis, a diferença também foi elevada. O lápis preto grafite variou de R$0,60 a R$1,30, numa diferença de 116,67%.
Na internet, as buscas por materiais escolares cresceram 194% no início do mês de janeiro, em relação ao mesmo período do ano anterior, mostrou um levantamento do portal Cuponomia. A expectativa é de um aumento ainda maior no mês de fevereiro.
